quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Porque tantas traduções da Bíblia?


Com certeza você já se fez esta pergunta, especialmente na hora de comprar uma Bíblia. Pelo menos oito diferentes versões (traduções) da Bíblia podem ser encontradas nas prateleiras de uma boa livraria evangélica. São cinco as variações na tradução de João Ferreira de Almeida: Revista e Corrigida (COR ou ARC), Revista e Atualizada (ATU ou ARA), Século 21, Edição Contemporânea (ECA ou AEC) e a Corrigida Fiel (ACF). Ao lado destas temos a Nova Versão Internacional (NVI), a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) e a Bíblia Viva. Estas são apenas as Bíblias protestantes, as que não trazem os livros apócrifos (deutero-canônicos) encontrados nas Bíblias católicas (livros acrescentados após a Reforma Protestante do século XVI).

Não bastasse estas diferentes versões do texto, temos as chamadas Bíblias de Estudo: Shedd, Pentecostal, Defesa da Fé, da Mulher, do Homem, NVI e por ai vai. As opções de escolha são cada vez maiores. Como escolher uma Bíblia? Vamos com calma.

Originalmente a Bíblia não foi escrita em português (aliás, o português ainda não existia). O Antigo Testamento foi escrito em Hebraico (com alguns trechos em Aramaico) e o Novo Testamento em grego (com trechos em Aramaico). Para termos a Bíblia em português foi necessário fazer-se uma tradução destas línguas. A primeira tradução completa em língua portuguesa foi obra de um missionário português, João Ferreira de Almeida, que faleceu em 1691, antes de completar o projeto. A tradução foi concluída por um pastor holandês em 1694, portanto, há mais de 300 anos atrás. Nestes trezentos anos a língua portuguesa mudou muito e o português falado no Brasil não é exatamente o mesmo de Portugual.

Duzentos anos mais tarde foi necessária uma atualização da grafia e do vocabulário do português. Esta revisão, de 1898, ficou conhecida como a versão Revista e Corrigida (ARC) da tradução de Almeida. Após a fundação da Sociedade Bíblica do Brasil em 1948, foi encomendada uma nova revisão da tradução de Almeida, a qual refletisse as particularidades do português do Brasil. Em 1956 foi lançada a versão Revista e Atualizada (ARA). De lá para cá outras atualizações foram realizadas pela Sociedade Bíblica do Brasil e por outras editoras evangélicas, resultando nas diferentes versões que estão atualmente nas livrarias. Todas seguem uma filosofia que busca traduzir as palavras do original hebráico ou grego na forma mais literal possível (palavra por palavra). A vantagem deste tipo de tradução é a sua fidelidade ao texto original. A desvantagem é ser, às vezes, de difícil compreensão no português.

Para facilitar a leitura para pessoas que não estão acostumadas a ler a Bíblia, usa-se um outro modelo de tradução conhecido como equivalência dinâmica. Pega-se uma frase ou expressão no grego e procura-se colocá-la em português na forma como a diríamos hoje, havendo maior preocupação em manter o sentido do que a forma. A vantagem é que fica mais fácil entender-se o sentido que o escritor procurou transmitir. A desvantagem é que esta tradução é menos útil quando se busca fazer um estudo aprofundado das palavras utilizadas pelo escritor. A Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) segue este tipo de tradução.

A Nova Versão Internacional (NVI) procura ficar entre os dois modelos anteriores. Traduz literalmente quando é possível fazê-lo com compreensão fácil e recorre à equivalência dinâmica quando a tradução literal fica mais difícil de se entender.

Qual delas é a Palavra de Deus? Todas. As palavras usadas podem variar, mas o sentido é o mesmo. Algumas traduções usam palavras mais clássicas, outras mais modernas.

A Bíblia Viva não pode ser classificada como uma tradução, mas uma paráfrase, isto é, procura fazer uma interpretação, colocando-a em outras palavras. A versão original em inglês foi concebida para ser compreendida pelas crianças e, de tão bem recebida, foi traduzida para muitas outras línguas. A Bíblia Viva é uma tradução do inglês e não das línguas originais. Ela não deve ser usada como Bíblia primária, mas apenas para leitura suplementar.

As Bíblias de estudo não são novas traduções da Bíblia. Todas utilizam uma das versões citadas acima. Seu diferencial é que além do texto bíblico, trazem textos devocionais, comentários, explicações de contexto e recursos suplementares (mapas, concordâncias, dicionários, esboço de livros bíblicos, tabelas, gráficos, etc) para auxiliar no estudo da Palavra de Deus. São muito úteis na preparação de sermões, estudos bíblicos e devocinais.

Após tanta informação você ainda pode se perguntar: mas qual é a melhor tradução? A resposta não é simples, pois depende da situação de cada um e do propósito da leitura. Para o novo convertido ou para quem deseja ler a Palavra de Deus de forma devocional, recomendo a NVI ou a NTLH. Para quem deseja estudar mais profundamente a Bíblia, recomendo a ARA ou a Século 21. Pessoas com dificuldade de leitura devem escolher a NTLH. Se desejar uma Bíblia de estudo, escolha primeiro a tradução e depois procure as opções de recursos que cada uma oferece. Boa leitura!

2 comentários:

  1. Versão não é tradução. A tradução, quanto possível, é fiel ao texto original. A versão, é a a interpretação segundo segundo as explicações daquele que fez a versão. Como se diz em política: "O importante não é fato, mas a versão do fato." Por que tantas versões? Simples. Quanto mais versões, mais bíblias são vendidas; mais as editoras faturam; mais dinheiro entra na conta bancária do autor da versão. Quer um exemplo? Silas Malafaia com a sua Editora Central Gospel.

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  2. Oliveira, creio que a sua definição de "versão" é na verdade "paráfrase". Outra coisa que não podemos confundir é o conteúdo de comentários (como Bíblias de Estudo, rodapés, notas explicativas, etc.) com a tradução do texto. O texto das Bíblias publicadas pela Central Gospel, por exemplo, são é idêntico aos já conhecidos (NVI, Almeida, etc.). O que elas tem de diferente são os artigos e notas explicativas que são acrescentados.
    Quanto à diferença entre tradução e versão, transcrevo aqui uma definição de um site de linguistas:
    "Muitas vezes o cliente busca uma cotação para tradução quando na realidade o que ele procura é uma versão. Mas qual a diferença? Tradução é quando o material está em um idioma estrangeiro e o cliente solicita o mesmo no idioma local, no nosso caso, o português. Já a versão é o processo inverso, o material original está em nosso idioma e o produto final será no idioma que o cliente solicitar". - www.brasilian.com

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