quarta-feira, 28 de maio de 2014

Templo e a Igreja Cristã

Quando se fala em edifícios onde se reúne a igreja cristã, no meio católico costuma-se ouvir falar muito em santuários (lugares santos). No meio evangélico, chama-se as vezes o prédio de templo e o salão interior de cultos de santuário. Tenho procurado entender o porquê desta terminologia. Quando usamos estes termos, o sentido que se passa (consciente ou inconscientemente) é que o local em que fica o prédio da igreja ou o espaço onde se faz os cultos é “santo” ou “sagrado”, local da habitação de Deus. Para algumas pessoas, este é o lugar em que se deve ir para encontrar a Deus.

Vejo estes conceitos como equivocados. Primeiramente, podem dar a impressão que Deus se limita a alguns lugares, quando o ensino bíblico é de que ele está em todas as partes ou, aliás, todos os lugares estão na sua presença. Ele é onipresente, sua presença ocupa todos os espaços e ele não é limitado pelo espaço ou a geografia.

Templo de Salomão
Em segundo lugar, dão a ideia de separação entre o sagrado e o profano. Em outras palavras, alguns lugares e objetos são sagrados enquanto que o restante não o é. Esta separação não existe mais na Era da Graça. Não existem espaços sagrados de adoração na igreja cristã. No Antigo Testamento vemos Deus dando instruções específicas sobre o tabernáculo e posteriormente o Templo que foi construído em Jerusalém. Estes espaços eram sagrados, contendo até distinção de grau de santidade: o lugar santo e o santo dos santos. Porém estas instruções designando um lugar santo eram temporárias (durante o período da Antiga Aliança) e tinham prazo para acabar – a morte de Cristo na cruz – estabelecendo assim uma Nova Aliança. Hebreus nos explica: “Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus;”(9:24). O tabernáculo e o Templo eram figuras temporárias do verdadeiro templo que está nos céus – não na igreja cristã (veja Ap 3:12; 7:15; 11:1-2, 19; 14:15, 17; 15:5-6, 8; 16:1,17).

Quando Jesus teve um encontro com a mulher samaritana ao lado de um poço aos pés do Monte Gerizim, a mulher lhe perguntou: “Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar.” (Jo 4:20). Os judeus adoravam em Jerusalém. Os samaritanos tinham construído um temple no Monte Gerizim para adorar a Deus. Ele foi destruído pelos Macabeus (judeus) algumas décadas antes, mas os samaritanos ainda adoravam a Deus naquele monte. A mulher samaritana queria saber qual dos dois lugares era o lugar certo para adorar. Poderia-se esperar que sendo judeu Jesus responderia ser Jerusalém. No entanto ele respondeu: “Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. [...] Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.”

Jesus já estava adiantando para ela que o local não seria mais importante. Não é o Monte Gerizim e nem o Templo em Jerusalém. Deus é espírito e pode ser adorado em qualquer local, independentemente de edifício próprio para a adoração. Pode ser em uma casa, na rua, debaixo de uma árvore ou em qualquer lugar. Ele não tem lugar fixo para se encontrar com seus adoradores. Em 70 d.C. o Templo de Jerusalém foi destruído e nunca mais reconstruído. Até o quarto século os cristãos se reuniam nas casas. Prédios para culto são uma conveniência nossa, não uma exigência de Deus. Estes prédios podem ser dedicados ao Senhor, mas não têm caráter mais santo do que outro local.

Na era da Igreja, todos os que são discípulos de Jesus é que são considerados templos ou santuários de Deus (ou do Espírito Santo). “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado.” (1Co 3:16-17 – veja também 1 Co 6:19; 2 Co 6:16 e Ef 2:21). São as pessoas que são santas, separadas para Deus e habitadas pelo seu Espírito Santo.

Portanto, será que vale a pena continuar usando esta terminologia do Antigo Testamento (santuário e templo) para falar dos nossos locais de culto?

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Fidelidade e Compromisso

Ultimamente tenho reparado mais em uma característica humana que é especialmente evidente em nossa cultura e sociedade. Falo da tendência que temos de nos entusiasmar e participar de eventos especiais e de negligenciar as atividades corriqueiras. Amamos ir aos shows e festas, mas temos preguiça e até pavor em fazer as atividades repetitivas, mas necessárias, como ir às aulas do nosso curso ou arrumar a casa. Continuar a fazer aquilo que é necessário, mas que não nos traz o mesmo nível de trazer, exige disciplina, compromisso e caráter. Muitos optam por se envolver quase que exclusivamente com aquilo que está em evidência ou o que dá prazer, negligenciando tudo aquilo que exige disciplina e compromisso.


Na vida espiritual não é diferente. Na igreja evangélica estamos assistindo ao fenômeno dos grandes eventos e shows para manter a presença do público, sempre com muita energia e emoções fortes. É mais fácil conseguir a cooperação dos membros em atividades que envolvam estar em evidência ou para atividades especiais. Leitura diária e estudo da Bíblia, vida de oração, assiduidade aos cultos regulares, fidelidade nas contribuições financeiras e compromisso com um serviço regular na igreja são coisas raras nos nossos dias.


Apesar de não ser popular, a fidelidade é uma das grandes virtudes do cristão. Em 1 Coríntios lemos: “Assim, os homens devem nos considerar servos de Cristo encarregados dos mistérios de Deus. Além disso, o que se requer de pessoas assim encarregadas é que sejam encontradas fiéis” (4:1-2). Todo cristão tem uma missão a cumprir e uma responsabilidade no seu relacionamento com Deus. O que se requer de cada um de nós é que sejamos fiéis e constantes no nosso relacionamento com Deus e no cumprimento de nossa missão neste mundo como membro do corpo de Cristo e agente do Reino de Deus.

Jesus contou uma parábola em Mateus capítulo 25 em que um senhor encarrega seus servos com recursos para que as gerenciassem durante uma longa viagem que iria fazer. Na sua volta ele pediu contas do que fizeram com estes recursos. Dois se saíram bem, pois tinham sido fiéis, cumpriram sua missão, multiplicaram os recursos e foram recompensados. O terceiro foi preguiçoso, sem compromisso e punido pelo seu senhor no momento de prestar contas. A frase repetida pelo senhor para os dois primeiros servos foi: “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel sobre pouco; sobre muito te colocarei; participa da alegria do teu senhor!”. Ao final de outra parábola registrada em Lucas 19, Jesus ensina que: “Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito; quem é injusto no pouco, também é injusto no muito”.

Como será que está a nossa fidelidade nas pequenas coisas, naquelas em que ninguém ou poucos vêm e naquelas que exigem disciplina e compromisso. Temos cultivado um relacionamento pessoal com Deus? Temos sido honestos nas pequenas coisas? Temos contribuído mensalmente com a nossa igreja local e com missões? Temos sido assíduos aos cultos de adoração, estudos bíblicos e reuniões de oração? Temos colocado os dons e habilidades que o Senhor nos deu a serviço do Reino? Senhor, molde nosso caráter, cultive em nós a disciplina pessoal e ajude-nos a manter os nossos compromissos!

domingo, 18 de maio de 2014

Unção de Enfermos

Em visita a qualquer livraria evangélica, provavelmente se encontrará uma prateleira ou vitrine com uma variedade de óleos a venda. Muitos pastores usam estes óleos (ou então óleo de cozinha ou azeite) para derramar na testa ou na cabeça das pessoas enfermas ou dos que estão buscando uma bênção, juntamente com a oração. Esta prática é necessária? É bíblica?

No Antigo Testamente, principalmente no Pentateuco, após a saída do povo de Israel do Egito, Deus ordenou a Moisés que os levitas preparassem um óleo de unção (Ex 30:22-28) que seria usado para ocasiões e propósitos especiais. Era um azeite especialmente preparado misturando-se especiarias que seria usado na consagração de sacerdotes, objetos do tabernáculo, profetas e reis.

Além deste uso especial, nas culturas dos tempos bíblicos o óleo (ou azeite) tinha diversos fins: Alimentação (1 Rs 17:12). Este um uso ainda é o mais comum nos dias de hoje.

Cosmético (Sl 104:15). Usava-se o azeite para passar no corpo para proteger contra a pele seca. Não havia Óleo Johnson na época. Em Ez 16:8-10 Deus usa uma metáfora de um recém-nascido abandonado para falar de Israel, onde depois de encontrar o bebê, a pele do seu corpo recebeu uma aplicação de azeite. Quando misturado com especiarias, era usado como se usa uma colônia ou perfume (Am 6:6). Ester usou esta mistura durante seis meses para se preparar para encontrar o rei (Et 2:12).

Recepção de hóspedes (Sl 23:5; Lc 7:46). Ungir a pessoa com um azeite aromático era uma forma honrosa de se receber hóspedes. Muitos versículos falam do “óleo sobre a cabeça” como sendo uma coisa boa, agradável (Sl 133:1-2; 141:5; Pv 27:9; Ec 9:8; etc.).

Iluminação (Mt 25:1-8). Como não havia luz elétrica naquela época, usavam-se lâmpadas (lamparinas) a óleo.

Ferimentos (Is 1:6; Lc 10:34 – história do Bom Samaritano). Como naquela época ainda não havia medicamentos fabricados cientificamente, usava-se medicamentos caseiros, entre eles o azeite misturado com ervas.

No Novo Testamento temos duas instâncias onde o óleo é usado em conjunto com oração, trazendo cura. O primeiro encontra-se em Mc 6:13 onde os discípulos, enviados em missão por Jesus, pregaram arrependimento, expulsaram muitos demônios, ungiram os doentes com óleo e os curaram. O segundo encontra-se em Tg 5:14-15: “Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”. Repare que é a oração com fé que é responsável pela cura. Devemos sempre lembrar que a fonte da cura é divina. No texto de Tiago vemos que duas coisas são utilizadas na cura: unção com óleo e oração. O óleo não tem poder milagroso em si. Ele simplesmente representa o tratamento físico: óleo nos dias bíblicos, tratamentos medicamentosos e cirúrgicos nos dias de hoje.

O que podemos concluir quanto ao uso da unção com óleo para cura nos dias de hoje? Primeiro, não é errado usá-lo, contanto que não seja visto como óleo milagroso e se torne instrumento de idolatria, como aconteceu com a serpente de bronze que foi usado no deserto para curar os israelitas das picadas de serpente. Infelizmente, hoje tem muita gente pondo sua fé no óleo em vez de Deus e muita gente usando ou vendendo óleo bento como se o óleo em si fosse abençoado ou tivesse propriedades milagrosas. 

Acho que a visão mais correta, no entanto, é entender a unção com óleo como símbolo do tratamento médico-cirúrgico, sendo então o uso da medicina associado à oração da fé. Deus pode curar com o sem as terapias humanas, mas a nossa dependência para a cura tem que estar sempre baseada nele.

sábado, 17 de maio de 2014

"Altar" na igreja cristã

Quando entramos em uma igreja católica romana, existe um espaço no extremo dianteiro da igreja com um móvel que se denomina “altar”. Ali, segundo a doutrina desta igreja, diariamente se realiza o sacrifício de Jesus ao consagrar a hóstia, tido como o próprio corpo de Cristo. Vemos também em outros espaços nestas igrejas e nos lares dos fiéis, altares que são usados para oferecer oferendas de vários tipos aos ídolos.

Fico atônito quando ouço evangélicos usando a palavra “altar” para se referirem a um espaço físico em suas igrejas (o palco) ou ao local de onde se prega. Algumas igrejas têm até regras sobre quem pode subir no “altar”, considerado um espaço mais santo do que o restante da igreja. Pergunto-me, de onde saiu esta ideia de que o palco é o altar da igreja cristã? Será que tem base bíblica ou é a adoção de conceitos católico-romanos?

No Antigo Testamento lemos muito sobre altares. Serviam para o sacrifício de animais como ofertas para Deus ou para os deuses. Os altares que Deus instruiu que seu povo construísse tinham o propósito de oferecer sacrifício pelos pecados – uma oferta que cobria (não apagava) os pecados do povo até a vinda do nosso Senhor Jesus Cristo que ofereceu o sacrifício perfeito. Lemos também sobre inúmeros altares pagãos que eram utilizados para sacrifícios aos deuses pagãos.

No Novo Testamento lemos que o sacrifício de Cristo é superior aos sacrifícios do Antigo Testamento (veja o livro de Hebreus), apagando os pecados uma vez por todas (pecados que já cometidos como os que ainda seriam cometidos no futuro). Após a morte de Cristo na cruz, não há mais a necessidade de outros sacrifícios, portanto, não há mais a necessidade de altares. Praticamente todas as referências que se faz no Novo Testamento a “altares” dizem respeito ao sistema de sacrifícios da Antiga Aliança (até a morte de Jesus), com exceção às referências em Apocalipse que dizem respeito a um altar nos céus. Alguma referência é feita a altares pagãos (como as que o apóstolo Paulo encontrou em Atenas – livro de Atos). Nenhum texto menciona a necessidade de altares na igreja cristã e nem existe menção desta prática na igreja primitiva.


Altar na igreja cristã somente pode ser visto como uma prática equivocada da perpetuação da Antiga Aliança ou então uma prática pagã, nenhum dos dois tendo lugar na Igreja de Jesus Cristo. O uso desta terminologia é perigoso e pode confundir pessoas despreparadas. Pode-se até argumentar a favor de um altar figurativo no coração de cada discípulo de Jesus Cristo onde ele/ela se oferece como sacrifício vivo a Jesus (Rm 12:1), ou um sacrifício de louvor a Deus (Hb 13:15), porque “com tais sacrifícios Deus se agrada” (Hb 13:16). Porém um espaço físico no salão de cultos não tem fundamento bíblico.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Unção

Uma das palavras mais ouvidas em “evangeliquês” ultimamente é a palavra “unção”. As músicas e bandas evangélicas adoram usar unção. Em uma busca rápida, achei os seguintes nomes de grupos “gospel”: Ministério Unção, Nova Unção, Unção Ágape, Unção do Louvor e até Unção do Gospel Funk.

A música Muita Unção (de Elizeu Gomes, interpretado por Cassiane) diz em um trecho: “Já está nesse lugar, a unção que vai te abençoar; Vai mandar todo mal sair; E a benção Ele vai te dar;
Pense na unção, veja a unção, pregue na unção; Louve na unção, sinta a unção, ande na unção, Viva na unção, cheio da unção. Sinta a unção que acaba de chegar; Está caindo como chuva, está enchendo este lugar”.

Em outra de suas interpretações (A Unção de Deus, de Hemerson Poubel) a letra da música que Cassiane canta diz: “A unção de Deus, Está descendo aqui; Ela quebra o jugo, faz o inexistente, existir; A unção de Deus, Vai se espalhar; Exalte e glorifique, tem unção neste lugar, Unção! Ande na unção... Fale na unção... Transpire a unção... Exale a unção... Viva na unção... Sinta a unção”. Como é que é? Transpire a unção? 

Temos também um sem número de “ministérios” com unção: Ministério Crescendo na Unção, Ministério Unção Profética, Ministério Unção do Crescimento, Fogo e Unção e muitos outros. Achei até “Grupo Unção Capoeira”. Tem uma igreja que promove a “unção do dizimista” todo 3º domingo do mês. Fenômenos estranhos têm sido denominados: unção do riso, unção do leão, unção do cachorro e por aí vai.

O evangeliquês tem incorporado frases como: “a unção está neste lugar”, “estar na unção”, “pregador ungido” e “buscar a unção do Espírito”. O que significa tudo isto? Dá para se perder no meio de tanta unção. Será que unção significa bênção ou poder, como sugere seu uso no meio evangélico? A pergunta que poucos estão fazendo é: o que diz a Bíblia?

O significado original e literal de ungir é o ato de derramar óleo ou unguento. Nos tempos bíblicos o óleo tinha várias funções (além da de cozinhar). Era usado para hidratar a pele, tratar feridas e outras doenças e, misturado com ervas e essências, era usado como perfume, para embalsamar cadáveres e até como oferta aos deuses e a Deus. Estes são os casos em que há uso literal do óleo. Em outro artigo tratarei da unção de óleo para curas.

Mas existe um uso mais simbólico e figurativo, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo. No Antigo Testamento vemos que três classes de pessoas foram ungidas: sacerdotes (como Aarão e seus filhos, além de suas roupas e os móveis santos [separados] do tabernáculo), reis (como Saul, Davi, Salomão, Hazael e Jeú) e profetas (como Elizeu). Esta unção se dava no momento em que eram indicados, consagrados, separados ou empossados para assumirem uma posição. Na “cerimônia de posse” (as veze formal e às vezes informal) o óleo era usado como símbolo externo desta escolha e separação para uma função. Estes ungidos só o foram uma única vez. No contexto fica muito claro que a unção era uma separação dos outros afazeres para uma consagração (ou dedicação)exclusiva a uma função ordenada por Deus. O termo “ungido do Senhor” era usado para falar dos reis, especialmente nos livros históricos e Salmos.

Isaías 61:1 tem um uso interessante do termo. “O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados;”. É uma alusão ao chamado e comissão de exercer um determinado ministério. Mas de quem é que se está falando aqui. O texto é profético e não identifica claramente de quem se trata. No entanto, Jesus esclarece tudo em Lucas 4:18 quando ele lê este texto na sinagoga e depois declara que este texto se cumpre na sua pessoa. Ele é o ungido pelo SENHOR para este ministério, o que, aliás, ele cumpriu.

No Novo Testamento aprendemos que Jesus é o Ungido do Senhor (At 4:26-27) e que Deus ungiu Jesus com o Espírito Santo e com poder (At 10:38). É importante saber que os títulos que Jesus recebeu na Bíblia, Messias (do idioma hebraico) e Cristo (do idioma grego) têm o mesmo significado: “o Ungido”. Jesus veio a este mundo com um só propósito, se oferecer como propiciação pelos nossos pecados para nos salvar. Ele é o grande Ungido de Deus; separado e consagrado para fazer a vontade do Pai.

Vemos também no Novo Testamento que Deus é que unge o cristão, e isto possibilita que permaneçamos firmes em Cristo e que sejamos sua propriedade e tenhamos o Espírito em nossos corações (2 Co. 1:21-22). Em 1 Jo. 2:20-28 aprendemos que todos os cristãos têm unção da parte do Santo (Jesus, v. 20) e esta unção é permanente, verdadeira e ensina todas as coisas (v. 27). Jesus é o único que é mencionado como sendo ungido “com o Espírito”. Não há nenhuma referência à unção “pelo Espírito”. Os cristãos são ungidos por Deus e por Jesus, não pelo Espírito Santo. Portanto, todo o verdadeiro cristão já possui a unção permanente de Deus sobre a sua vida, isto é, fomos separados para ele para vivermos de acordo com a vontade dele em santidade de vida (separados das contaminações do mundo). Somos consagrados a ele.


Não é necessário buscar a unção, já somos ungidos. Vamos mudar o nosso vocabulário para refletir as verdades bíblicas em vez do “evangeliquês” que muitas vezes consumimos sem reflexão.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Lições de 2 Reis

Terminei de ler 2 Reis hoje e mais uma vez me impressionei com a história do Povo de Deus desta época. É uma época muito atribulada dos últimos séculos antes da queda e destruição de Jerusalém pelos babilônios. O livro já começa depois da divisão de Israel em duas nações: a parte maior continuou usando o nome Israel e foi derrotada pelos assírios e a parte menor, que foi chamada de Judá, pois ficou principalmente com a tribo de Judá, da linhagem do Rei Davi.

É um período em que Judá começou a imitar a idolatria de Israel. Durante este período de cerca de 300 anos, Judá teve 15 reis, 9 dos quais foram considerados pela Bíblia como maus e 6 como bons. Este juízo de maus e bons era com relação à inclinação espiritual deles, se eram obedientes a Deus ou idólatras e injustos.

O sétimo rei deste período de 2 Reis foi Acaz (cap. 16), considerado mau, após uma sucessão de 4 reis bons. Acaz sacrificou aos ídolos em altares que erigiu nas colinas, em baixo de árvores frondosas e até em um altar idólatra colocado dentro do pátio do Templo, réplica exata do que tinha visto em Damasco. Ele retirou o altar que Deus tinha instruído que construíssem para introduzir este altar idólatra. Sua idolatria chegou ao ponto de oferecer seu próprio filho em sacrifício ao deus Moloque.

Após sua morte, seu filho Ezequias o sucedeu como rei de Judá. Ele foi o oposto de seu pai. Foi considerado por Deus como sendo bom. Desfez toda a idolatria que seu pai tinha construído, confiou em e adorou a Deus. No seu leito de morte, orou a Deus pedindo socorro. Deus enviou Isaías para avisá-lo que lhe iria curar e acrescentar 15 anos de vida em resposta a sua oração. Que resposta tremenda à oração! No entanto, durante este período nasceu Manassés, que seria o próximo rei de Judá.

Quando Ezequias morreu, Manassés assumiu o trono com somente 12 anos de idade e reinou durante 55 anos (cap. 21). Ele foi o pior rei que Judá teve. Além de fazer tudo que foi mencionado sobre Acaz (incluindo o sacrifício de um filho), ele praticou a feitiçaria, o encantamento e toda sorte de mau. Diz inclusive que ele derramou tanto sangue inocente que encheu a cidade de uma ponta a outra (figurativamente, é claro). Diz que ele induziu o povo ao erro, pois seguiram o seu exemplo. Cinquenta e cinco anos foi o reino mais longo da história de Judá e foi com o rei mais perverso. Seu filho Amom o sucedeu em um reinado que durou apenas dois anos e fez o mesmo que o pai. O que se poderia esperar de seu filho, neto de Manassés, após 57 anos de idolatria e injustiça?

Aí é que vem a surpresa. Josias assumiu o trono com apenas oito anos de idade. Sua primeira ação registrada foi mandar reparar o Templo, a casa de Deus. Durante a reforma, foi localizada ali uma cópia das Escrituras, que nem os sacerdotes conheciam mais. O sumo sacerdote e seu escrivão leram as Escrituras e ficaram impressionados. Levaram ao rei Josias que ficou atônito. Rasgou sua roupa em símbolo de desespero e mandou localizar um profeta de Deus para saber o que deveriam fazer.

O rei Josias levou o povo a renovar a aliança entre a nação e Deus. Em seguida mandou fazer uma limpeza no Templo, tirando todos os ídolos e seus altares, destituiu os sacerdotes idólatras e expulsou os prostitutos cultuais que viviam e “trabalhavam” no Templo (isto mesmo, a prostituição fazia parte do culto idólatra). Além de fazer uma limpeza no Templo, ele saiu pelo país destruindo altares e ídolos e matando os sacerdotes destes ritos. Após limpar o país, instituiu novamente a celebração da Páscoa, que não tinha sido celebrada desde a época dos juízes (antes da monarquia). Ele eliminou do país os adivinhos, feiticeiros e a idolatria doméstica. Em 23:25 lemos: “Antes de Josias não houve rei semelhante a ele, que se convertesse ao Senhor de todo o coração, de toda a alma e de todas as forças, conforme toda a lei de Moisés; e nunca se levantou outro semelhante depois dele”. Verdade, pois depois dele só tiveram mais quatro reis, todos maus e todos vassalos do rei da Babilônia, que finalmente mandou destruir e queimar o Templo e a cidade de Jerusalém.

Impressionante: o melhor rei de Judá (Josias) sucedeu o pior (Manassés). Quando Josias apareceu em cena, a coisa estava feia. Uma idolatria endêmica a diversos deuses, levando as pessoas até ao sacrifício humano, misturado com feitiçaria e uma injustiça social generalizada. Como é que uma pessoa que nasce em uma família política devassa, idólatra, cruel, injusta e que nem conhecia as Escrituras pudesse buscar a Deus com tanta sinceridade e devoção?

Tiro algumas lições deste livro:
1.    O exemplo espiritual de nossos governantes tem grande influência sobre a espiritualidade do povo. Bons exemplos espirituais levam muitos a se voltarem a Deus. Maus exemplos fazem o contrário.

2.     A oscilação espiritual de uma nação, com grandes altos e baixos, eventualmente leva o povo à ruína.

3. Como exemplifica o caso de Josias, nossas circunstâncias não têm que determinar o nosso comportamento. É possível escolhermos fazer o que é certo, buscar a Deus e servi-lo.


4.   Cuidado com o que pede a Deus. Ezequiel, um bom rei, pediu cura e maior tempo de vida. Deus o concedeu. Porém durante este tempo nasceu o que seria o pior rei de Judá. Não temos sempre a noção exata do que é bom para nós e para nossa família. É por isso que é importante confiar em Deus e deixar a nossa petição nas mãos dele, somente para ser respondida se for de acordo com a sua vontade perfeita.

domingo, 4 de maio de 2014

88 Aviões Jumbo Caem Matando 44 Mil Pessoas

Já imaginou uma manchete destas?

Hoje li um blog que me chamou bastante a atenção. A pergunta que o autor fazia é: "Quantas pessoas morrem todos os dias sem serem evangelizadas?". Você sabe a resposta?

Vejamos, o mundo tem uma população de 7,2 bilhões de pessoas. As estatísticas nos dizem que atualmente, 29,2% da população mundial ainda não foi evangelizada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que mais de 150 mil pessoas morrem por dia no mundo. Se fizermos as contas, 44 mil pessoas não evangelizadas morrem por dia. É como se fossem 88 aviões jumbo lotados com 500 pessoas que caíssem dos céus todos os dias matando todos os seus ocupantes. Dá para se ter uma ideia?

Dá para ver porque é necessário e urgente enviarmos missionários para esta massa de pessoas, antes que seja tarde demais? Muitas destas pessoas não-alcançadas moram em lugares que apresentam um ou mais dos seguintes fatores: acesso muito difícil, limitações severas à evangelização, restrições ao culto, tradições religiosas fortes e resistência ao evangelho. Quando enviamos missionários a estes rincões do mundo, não se pode esperar o mesmo resultado, em termos de números, que o que temos no Brasil. O terreno é árido e a semente muitas vezes demora para brotar.

Precisamos ter um compromisso com missões a longo prazo para estas áreas do mundo. Por exemplo, o Japão é o país onde mais temos missionários batistas livres atualmente. A evangelização do povo japonês pelos batistas livres começou há 60 anos. No entanto, o fruto ainda é pequeno. Os japoneses são o segundo maior povo não-alcançado do mundo e um dos países com custo de vida mais caro. No entanto, precisamos continuar a evangelizar.

O que podemos fazer?

  1. Orar. Ore para que o Senhor da Seara envie mais obreiros. Ore pelos missionários que já estão no campo. Ore pela salvação de almas.
  2. Procurar se informar. Aprenda onde estão os povos não-alcançados, quais são suas necessidades, quem são os missionários que estão no campo e o que eles precisam.
  3. Contribuir com missões. Faça uma oferta missionária generosa todos os meses. Seja fiel, mesmo quando não tem notícias recentes do trabalho. Procure saber do missionário quais são as outras maneiras em que você pode contribuir.
  4. Estar disposto a ir se Deus chamar. Pode ser para projetos curtos ou até um compromisso mais longo. Pergunte para Deus se esta é a vontade dele para sua vida.
Vamos tirar do ar pelo menos 1 destes 88 aviões!

sábado, 3 de maio de 2014

A Importância da Bíblia

É fato notório que, nas últimas décadas, a Bíblia tem perdido a sua posição de importância como lugar central na igreja evangélica e na vida do cristão. Quando é utilizada, frequentemente é de forma distorcida ou utilitarista. A maioria dos crentes jamais leu a Bíblia inteira e apenas uma pequena minoria tem o hábito da leitura regular e sistemática. O cristão contemporâneo prefere cantar, dançar, orar, ouvir sermões e socializar. A Bíblia aparenta ser de difícil compreensão. Alguns relatos são chocantes às nossas sensibilidades ocidentais modernas e a cultura bíblica parece deveras distante da nossa realidade. Será que é tão importante assim ler e estudar a Palavra?

A importância da Bíblia está ligada à sua própria natureza, sendo a revelação de Deus aos homens. Deus tomou a iniciativa de se fazer conhecer: sua natureza, sua vontade e seu plano para a humanidade. A Bíblia é o instrumento mais importante que Deus usa para se comunicar conosco. Durante cerca de 1.600 anos as comunicações de Deus aos patriarcas, aos reis de Israel, aos profetas e aos apóstolos foram registradas em escrita para que todos os povos, de todos os lugares do planeta, em todas as épocas, tivessem acesso à sua Palavra de maneira exata e invariável. Deus quis se fazer conhecer a todos.

Embora escritas por homens, as palavras que encontramos na Bíblia, não são meras ideias humanas, mas palavras de Deus. O seu Espírito Santo inspirou e guiou os escritores para que registrassem as palavras que refletissem a mensagem divina. Nesta parceria o Espírito respeitou o vocabulário e o estilo próprio de cada escritor, mas os supervisionou para que o produto final fosse preciso e sem erro. A Bíblia não se propõe a ser um tratado científico, um atlas geográfico ou uma crônica histórica completa. No entanto, tudo nela relatado é exato e de confiança.

Sendo revelação de Deus, inspirada pelo Espírito Santo e confiável em seu conteúdo, a Bíblia possui autoridade sobre nossa vida. Toda a instrução espiritual e moral nela contida tem aplicação para nossa vida, o que a torna um instrumento precioso. O esforço de ler, estudar, compreender e aplicar o que ela diz traz uma recompensa valiosa de transformação de vida. A pessoa regenerada (que aceitou a Jesus Cristo) não está sozinha nesta árdua tarefa, mas passa a ter a ajuda do Espírito Santo (o que chamamos de iluminação), pois as coisas espirituais somente se discernem espiritualmente (1 Co 2:14).

A Bíblia não é um objeto aberto a múltiplas interpretações de acordo com o desejo de cada pessoa. Sua interpretação deve ser de acordo com o sentido que Deus pretendeu que tivesse. Para isto é preciso observar alguns princípios de interpretação (hermenêutica: a arte da interpretação) para que o produto da nossa reflexão não seja equivocado. Os versículos devem ser considerados dentro dos contextos literário, histórico e cultural. Doutrinas devem ser formuladas levando-se em consideração textos didáticos (de ensino) e não baseando-se em narrativas de fatos ocorridos que não são necessariamente normativas para todos os cristãos.

Um dos fatores que confunde muitas pessoas duvidosas quanto à Bíblia é a questão das contradições aparentes. Para alguns, é uma prova da falsidade do cristianismo. No entanto, a maior parte das contradições aparentes é de fácil resolução quando se leva em consideração os princípios de interpretação bíblica citados acima. O restante pode não ter uma explicação óbvia devido à nossa distância no tempo, diferenças culturais entre as épocas, ou devido à falta de informações suficientes para afirmações definitivas. O que precisamos manter em mente é que a Bíblia é confiável, pois é a Palavra de Deus.


Quando nos conscientizamos da realidade deste livro único, diferenciado e precioso, não podemos deixar de lhe dar a posição central em nossas igrejas e em nossa vida.