É fato notório que, nas últimas décadas, a Bíblia tem perdido a sua
posição de importância como lugar central na igreja evangélica e na vida do
cristão. Quando é utilizada, frequentemente é de forma distorcida ou
utilitarista. A maioria dos crentes jamais leu a Bíblia inteira e apenas uma
pequena minoria tem o hábito da leitura regular e sistemática. O cristão
contemporâneo prefere cantar, dançar, orar, ouvir sermões e socializar. A
Bíblia aparenta ser de difícil compreensão. Alguns relatos são chocantes
às nossas sensibilidades ocidentais modernas e a cultura bíblica parece deveras
distante da nossa realidade. Será que é tão importante assim ler e estudar a
Palavra?
A importância da Bíblia está ligada à sua própria natureza, sendo a
revelação de Deus aos homens. Deus tomou a iniciativa de se fazer conhecer: sua
natureza, sua vontade e seu plano para a humanidade. A Bíblia é o instrumento
mais importante que Deus usa para se comunicar conosco. Durante cerca de 1.600
anos as comunicações de Deus aos patriarcas, aos reis de Israel, aos profetas e
aos apóstolos foram registradas em escrita para que todos os povos, de todos os
lugares do planeta, em todas as épocas, tivessem acesso à sua Palavra de
maneira exata e invariável. Deus quis se fazer conhecer a todos.
Embora escritas por homens, as palavras que encontramos na Bíblia, não
são meras ideias humanas, mas palavras de Deus. O seu Espírito Santo inspirou e
guiou os escritores para que registrassem as palavras que refletissem a
mensagem divina. Nesta parceria o Espírito respeitou o vocabulário e o estilo
próprio de cada escritor, mas os supervisionou para que o produto final fosse
preciso e sem erro. A Bíblia não se propõe a ser um tratado científico, um
atlas geográfico ou uma crônica histórica completa. No entanto, tudo nela
relatado é exato e de confiança.
Sendo revelação de Deus, inspirada pelo Espírito Santo e confiável em
seu conteúdo, a Bíblia possui autoridade sobre nossa vida. Toda a instrução
espiritual e moral nela contida tem aplicação para nossa vida, o que a torna um
instrumento precioso. O esforço de ler, estudar, compreender e aplicar o que
ela diz traz uma recompensa valiosa de transformação de vida. A pessoa
regenerada (que aceitou a Jesus Cristo) não está sozinha nesta árdua tarefa,
mas passa a ter a ajuda do Espírito Santo (o que chamamos de iluminação), pois
as coisas espirituais somente se discernem espiritualmente (1 Co 2:14).
A Bíblia não é um objeto aberto a múltiplas interpretações de acordo com
o desejo de cada pessoa. Sua interpretação deve ser de acordo com o sentido que
Deus pretendeu que tivesse. Para isto é preciso observar alguns princípios de
interpretação (hermenêutica: a arte da interpretação) para que o produto da
nossa reflexão não seja equivocado. Os versículos devem ser considerados dentro
dos contextos literário, histórico e cultural. Doutrinas devem ser formuladas
levando-se em consideração textos didáticos (de ensino) e não baseando-se em
narrativas de fatos ocorridos que não são necessariamente normativas para todos
os cristãos.
Um dos fatores que confunde muitas pessoas duvidosas quanto à Bíblia é a
questão das contradições aparentes. Para alguns, é uma prova da falsidade do cristianismo.
No entanto, a maior parte das contradições aparentes é de fácil resolução
quando se leva em consideração os princípios de interpretação bíblica citados
acima. O restante pode não ter uma explicação óbvia devido à nossa distância no
tempo, diferenças culturais entre as épocas, ou devido à falta de informações
suficientes para afirmações definitivas. O que precisamos manter em mente é que
a Bíblia é confiável, pois é a Palavra de Deus.
Quando
nos conscientizamos da realidade deste livro único, diferenciado e precioso,
não podemos deixar de lhe dar a posição central em nossas igrejas e em nossa
vida.
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