quarta-feira, 28 de maio de 2014

Templo e a Igreja Cristã

Quando se fala em edifícios onde se reúne a igreja cristã, no meio católico costuma-se ouvir falar muito em santuários (lugares santos). No meio evangélico, chama-se as vezes o prédio de templo e o salão interior de cultos de santuário. Tenho procurado entender o porquê desta terminologia. Quando usamos estes termos, o sentido que se passa (consciente ou inconscientemente) é que o local em que fica o prédio da igreja ou o espaço onde se faz os cultos é “santo” ou “sagrado”, local da habitação de Deus. Para algumas pessoas, este é o lugar em que se deve ir para encontrar a Deus.

Vejo estes conceitos como equivocados. Primeiramente, podem dar a impressão que Deus se limita a alguns lugares, quando o ensino bíblico é de que ele está em todas as partes ou, aliás, todos os lugares estão na sua presença. Ele é onipresente, sua presença ocupa todos os espaços e ele não é limitado pelo espaço ou a geografia.

Templo de Salomão
Em segundo lugar, dão a ideia de separação entre o sagrado e o profano. Em outras palavras, alguns lugares e objetos são sagrados enquanto que o restante não o é. Esta separação não existe mais na Era da Graça. Não existem espaços sagrados de adoração na igreja cristã. No Antigo Testamento vemos Deus dando instruções específicas sobre o tabernáculo e posteriormente o Templo que foi construído em Jerusalém. Estes espaços eram sagrados, contendo até distinção de grau de santidade: o lugar santo e o santo dos santos. Porém estas instruções designando um lugar santo eram temporárias (durante o período da Antiga Aliança) e tinham prazo para acabar – a morte de Cristo na cruz – estabelecendo assim uma Nova Aliança. Hebreus nos explica: “Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus;”(9:24). O tabernáculo e o Templo eram figuras temporárias do verdadeiro templo que está nos céus – não na igreja cristã (veja Ap 3:12; 7:15; 11:1-2, 19; 14:15, 17; 15:5-6, 8; 16:1,17).

Quando Jesus teve um encontro com a mulher samaritana ao lado de um poço aos pés do Monte Gerizim, a mulher lhe perguntou: “Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar.” (Jo 4:20). Os judeus adoravam em Jerusalém. Os samaritanos tinham construído um temple no Monte Gerizim para adorar a Deus. Ele foi destruído pelos Macabeus (judeus) algumas décadas antes, mas os samaritanos ainda adoravam a Deus naquele monte. A mulher samaritana queria saber qual dos dois lugares era o lugar certo para adorar. Poderia-se esperar que sendo judeu Jesus responderia ser Jerusalém. No entanto ele respondeu: “Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. [...] Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.”

Jesus já estava adiantando para ela que o local não seria mais importante. Não é o Monte Gerizim e nem o Templo em Jerusalém. Deus é espírito e pode ser adorado em qualquer local, independentemente de edifício próprio para a adoração. Pode ser em uma casa, na rua, debaixo de uma árvore ou em qualquer lugar. Ele não tem lugar fixo para se encontrar com seus adoradores. Em 70 d.C. o Templo de Jerusalém foi destruído e nunca mais reconstruído. Até o quarto século os cristãos se reuniam nas casas. Prédios para culto são uma conveniência nossa, não uma exigência de Deus. Estes prédios podem ser dedicados ao Senhor, mas não têm caráter mais santo do que outro local.

Na era da Igreja, todos os que são discípulos de Jesus é que são considerados templos ou santuários de Deus (ou do Espírito Santo). “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado.” (1Co 3:16-17 – veja também 1 Co 6:19; 2 Co 6:16 e Ef 2:21). São as pessoas que são santas, separadas para Deus e habitadas pelo seu Espírito Santo.

Portanto, será que vale a pena continuar usando esta terminologia do Antigo Testamento (santuário e templo) para falar dos nossos locais de culto?

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