Quando se
fala em edifícios onde se reúne a igreja cristã, no meio católico costuma-se
ouvir falar muito em santuários (lugares santos). No meio evangélico, chama-se as
vezes o prédio de templo e o salão interior de cultos de santuário. Tenho
procurado entender o porquê desta terminologia. Quando usamos estes termos, o sentido
que se passa (consciente ou inconscientemente) é que o local em que fica o
prédio da igreja ou o espaço onde se faz os cultos é “santo” ou “sagrado”,
local da habitação de Deus. Para algumas pessoas, este é o lugar em que se deve
ir para encontrar a Deus.
Vejo estes
conceitos como equivocados. Primeiramente, podem dar a impressão que Deus se
limita a alguns lugares, quando o ensino bíblico é de que ele está em todas as
partes ou, aliás, todos os lugares estão na sua presença. Ele é onipresente,
sua presença ocupa todos os espaços e ele não é limitado pelo espaço ou a
geografia.
Templo de Salomão |
Em segundo
lugar, dão a ideia de separação entre o sagrado e o profano. Em outras
palavras, alguns lugares e objetos são sagrados enquanto que o restante não o
é. Esta separação não existe mais na Era da Graça. Não existem espaços sagrados
de adoração na igreja cristã. No Antigo Testamento vemos Deus dando instruções
específicas sobre o tabernáculo e posteriormente o Templo que foi construído em
Jerusalém. Estes espaços eram sagrados, contendo até distinção de grau de
santidade: o lugar santo e o santo dos santos. Porém estas instruções
designando um lugar santo eram temporárias (durante o período da Antiga
Aliança) e tinham prazo para acabar – a morte de Cristo na cruz – estabelecendo
assim uma Nova Aliança. Hebreus nos explica: “Porque Cristo não entrou em
santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para
comparecer, agora, por nós, diante de Deus;”(9:24). O tabernáculo e o Templo
eram figuras temporárias do verdadeiro templo que está nos céus – não na igreja
cristã (veja Ap 3:12; 7:15; 11:1-2, 19; 14:15, 17; 15:5-6, 8; 16:1,17).
Quando Jesus
teve um encontro com a mulher samaritana ao lado de um poço aos pés do Monte
Gerizim, a mulher lhe perguntou: “Nossos pais adoravam neste monte; vós,
entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar.” (Jo 4:20). Os
judeus adoravam em Jerusalém. Os samaritanos tinham construído um temple no
Monte Gerizim para adorar a Deus. Ele foi destruído pelos Macabeus (judeus)
algumas décadas antes, mas os samaritanos ainda adoravam a Deus naquele monte.
A mulher samaritana queria saber qual dos dois lugares era o lugar certo para
adorar. Poderia-se esperar que sendo judeu Jesus responderia ser Jerusalém. No
entanto ele respondeu: “Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste
monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. [...] Mas vem a hora e já chegou, em
que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque
são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa
que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.”
Jesus já
estava adiantando para ela que o local não seria mais importante. Não é o Monte
Gerizim e nem o Templo em Jerusalém. Deus é espírito e pode ser adorado em
qualquer local, independentemente de edifício próprio para a adoração. Pode ser
em uma casa, na rua, debaixo de uma árvore ou em qualquer lugar. Ele não tem
lugar fixo para se encontrar com seus adoradores. Em 70 d.C. o Templo de
Jerusalém foi destruído e nunca mais reconstruído. Até o quarto século os
cristãos se reuniam nas casas. Prédios para culto são uma conveniência nossa,
não uma exigência de Deus. Estes prédios podem ser dedicados ao Senhor, mas não
têm caráter mais santo do que outro local.
Na era da
Igreja, todos os que são discípulos de Jesus é que são considerados templos ou
santuários de Deus (ou do Espírito Santo). “Não sabeis que sois santuário de
Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de
Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado.” (1Co
3:16-17 – veja também 1 Co 6:19; 2 Co 6:16 e Ef 2:21). São as pessoas que são
santas, separadas para Deus e habitadas pelo seu Espírito Santo.
Portanto, será que vale a pena continuar usando esta terminologia do Antigo Testamento (santuário e templo) para falar dos nossos locais de culto?